quarta-feira, 29 de abril de 2009

"Maciço" será exibido na Casa da Memória

Nesta quinta-feira (30.04), às 19h00, na Casa da Memória (na frente da Câmara de Vereadores da Capital), será exibido o documentário “Maciço”, de Pedro MC. A sessão integra o circuito de apresentações gratuitas que o diretor está promovendo em diversos espaços da Grande Florianópolis, sempre com a presença de um debatedor – desta vez, o escritor Fábio Brüggemann.
Projeto contemplado no Edital Cinemateca Catarinense da Fundação Catarinense de Cultura (FCC), o filme parte da contraposição da imagem estritamente turística da Ilha de Santa Catarina divulgada pela mídia com a realidade vivida pelos moradores de 17 comunidades que compõem o maciço do Morro da Cruz, na região central da cidade.
Com pesquisa, entrevistas e co-produção de Karen Christine Rechia, doutoranda em história do Brasil na Universidade de Campinas (Unicamp), o projeto começou em 2004. Foram gravadas cerca de 102 horas de imagens para esta produção de 79 minutos, que consumiu um ano de decupagem detalhada e outro de edição. Os próprios moradores se envolveram na execução, fazendo trabalhos de bastidor.
A primeira exibição ocorreu no Cineclube Nossa Senhora do Desterro, no Centro Integrado de Cultura (CIC), no último dia 10.


segunda-feira, 27 de abril de 2009

Os carros que se danem!

Elaine Tavares

Foi preciso muita luta, mas, enfim, os trabalhadores conseguiram que a prefeitura de Florianópolis iniciasse um processo de melhoria no tráfego do transporte coletivo. A criação dos corredores exclusivos de ônibus nos horários de pico é uma ação verdadeiramente necessária e se configura numa melhoria de curto prazo, até que se possa definir, de verdade, um transporte coletivo de qualidade. É pequeno, mas é um avanço.
Antes desta decisão, as pessoas que faziam o trajeto de volta para a casa depois do trabalho precisavam amargar horas nos engarrafamentos, e todos eles provocados pelo excesso de carros. Agora, quem vai de ônibus chega mais rápido e é assim que deve ser. Eu mesmo, que moro no Campeche, sei bem o que era chegar ao lar quase às nove horas da noite, por conta das tranqueiras do trânsito.Pois não foi sem surpresa que vi apresentador do programa popular César Souza neste dia de feriado vociferar contra as faixas exclusivas. Fiquei passada porque imaginava eu que ele fosse um defensor do povo como diz ser. Mas quê! Estava ele a defender o “inalienável” direito dos que têm carro e querem o maior conforto para transitar na cidade. Ah, sim, senhor apresentador. Apenas os mui dignos representantes de sua classe e os da classe média aburguesada.
Os trabalhadores lutaram anos a fio por essa minúscula melhoria, porque ela tampouco dá conta do transtorno que é tomar um ônibus nesta cidade. Faltam horários, os ônibus são velhos, as esperas intermináveis e longas são as filas. Mas, pelo menos, com a faixa exclusiva se demora menos para chegar a casa. Os que estão no carro, geralmente só com uma pessoa dentro, que passem a usar o transporte público ou então que fiquem nas filas. São eles que atravancam o trânsito e estão muito mais confortáveis que nós, em pé, nas latas velhas.
Portanto, minha gente, fiquemos de olho. A pequena burguesia motorizada já está gritando. Não quer esperar nas filas. Nós precisamos ficar unidos para manter a decisão da prefeitura. Para quem pega ônibus a vida melhorou duzentos por cento e não vamos permitir que isso volte atrás. Vida longa aos corredores.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Sindicato dos Jornalistas discute atuação do Grupo RBS em Santa Catarina


Na semana em que é celebrado o Dia do Trabalhador, o SJSC realiza a Semana do Trabalhador Jornalista, cujo eixo será a atuação do Grupo RBS no Estado. A primeira atividade será na segunda-feira, dia 27, e a segunda no dia 30 de abril, quinta-feira.
No dia 27, no auditório da FECESC, na Capital, haverá a mesa-redonda Grupo RBS: Domínio Econômico e Discursivo, da qual participam Celso Tres, Procurador da República em Tubarão, e Danilo Carneiro, membro do Grupo Tortura Nunca Mais/RJ. No dia 30 será feita panfletagem, das 10 às 13 horas, no Largo da Alfândega em Florianópolis, com esclarecimentos sobre a profissão de jornalista e as implicações da atuação do Grupo RBS no Estado, que é alvo de uma Ação Civil Pública pelo Ministério Público Federal em Santa Catarina.
A Ação, de número 2008.72.00.014043-5, busca tutelar o direito de informação e expressão da população catarinense. O principal objetivo é anular a aquisição do jornal A Notícia, agora do Grupo RBS. Além disso, o MPF quer reduzir o número de emissoras de televisão do Grupo ao máximo permitido por lei, que são duas.
Para o MPF, a situação de oligopólio é clara, em que um único grupo econômico possui quase a total hegemonia das comunicações no estado. Por isso, a Ação discute questões como a necessidade de pluralidade dos meios de comunicação social para garantir o direito de informação e expressão; e a manutenção da livre concorrência e da liberdade econômica, ameaçadas por práticas oligopolistas. O Grupo é a maior rede regional de TV do país. São 18 emissoras de TV, 26 emissoras de rádio AM e FM, oito jornais e 4 portais na internet.
Outro problema é bastante conhecido pelos jornalistas. Vários profissionais foram demitidos quando o Grupo comprou o jornal joinvilense, e em 2009 ocorreu novo “enxugamento” nas redações. Além de questão do desemprego de profissionais com experiência, outro fato preocupante é que a RBS consolida uma posição discursiva privilegiada: dona de emissoras de rádio, de tevê e de jornais, ela é a grande fonte de interpretação da realidade social, espacial, política, econômica, do Estado. Santa Catarina se vê pelos “olhos” da RBS, que consolida a memória das coisas a dizer, filmar e escrever sobre SC.
O Procurador Celso Tres é um dos autores da Ação e irá conversar com os jornalistas sobre a iniciativa do MPF/SC. Já Danilo Carneiro falará sobre as limitações da forma jurídica no que se refere ao acesso da população aos meios de comunicação.
No dia 30 de abril, quinta-feira, das 10h às 13h, no Largo da Alfândega, na Capital, esse debate será levado à população como parte da iniciativa do Sindicato de refletir sobre o fazer dos jornalista no Dia do Trabalhador.

Programação:

SEMANA DO TRABALHADOR JORNALISTA


Segunda, dia 27, às 19 horas, no auditório da FECESC, na Av. Mauro Ramos, 1624, na Capital:

Mesa-redonda - Grupo RBS: Domínio Econômico e Discursivo em SC
* Fundamentos da Ação Civil Pública 2008.72.00.014043-5 – Celso Tres, procurador do Ministério Público Federal em Santa Catarina
*Comunicação, Estado e Capital: as limitações da forma jurídica – Danilo Carneiro, membro do Grupo Tortura Nunca Mais/RJ, inválido pela tortura

Quinta, dia 30, das 10h às 13h, no Largo da Alfândega, na Capital:
Panfletagem com esclarecimentos sobre a profissão de jornalista e as implicações da atuação do Grupo RBS no Estado

Sinergia incentiva leitura


Todas as bibliotecas públicas de Santa Catarina, diversas escolas e universidades do estado e mais de 100 entidades culturais do país estão recebendo - gratuitamente - um exemplar do livro Conto e Poesia, publicado no segundo semestre de 2008. A obra reúne os 45 trabalhos selecionados no 6o Concurso Literário promovido pelo Sindicato dos Eletricitários de Florianópolis - Sinergia. Dado a abrangência e credibilidade do concurso, a obra representa uma significativa mostra da recente produção literária do estado.

Com a remessa desses quase 800 exemplares, o sindicato busca facilitar o acesso a essa produção e estimular a leitura de textos de escritores catarinenses. Essa iniciativa faz parte de sua política de ação, uma vez que o Sinergia compreende a cultura como o maior e melhor instrumento de desenvolvimento humano e de uma nação.Há 18 anos o Sinergia incorporou a ação cultural como parte de sua ação política, na sua relação com a categoria e com a sociedade. Em 2007 o sindicato lançou o livro "Sindicato e Cultura - da prática à teoria: a experiência do Sinergia', que conta a história dos 17 anos da ação cultural. Dentre os projetos culturais de maior destaque estão o "Meia Hora", que leva apresentações culturais para os locais de trabalho, as oficinas, e o concurso estadual Conto e Poesia.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Palavras não bastam

Elaine Tavares - jornalista
O discurso do presidente Barak Obama na V Cúpula das Américas foi absolutamente claro no que diz respeito à relação que seu governo pretende ter com a América Latina: ou os países da América Latina fazem o que ele manda ou a mão do império se abaterá sobre eles. Os otimistas dirão que isso é uma loucura, que nada disso foi pronunciado e, em parte, estarão certos. A fala, assim, não foi pronunciada. Mas, como dizia Jesus, quem tem ouvidos para ouvir, ouviu.Barak Obama é um homem cheio de bossa. É bonito, é simpático, carismático. Chegou com sorrisos, apertos de mão, disposto a ouvir inclusive aqueles que eram considerados “terroristas” pelo governo Bush, tal como Chávez e Morales. Falou depois do discursos de outros presidentes e não moveu qualquer músculo quando ouviu as críticas ao governo dos Estados Unidos e seu criminoso bloqueio a Cuba. Mas, quando falou, foi claríssimo. Disse que ele era diferente dos presidentes anteriores e que iria promover mudanças. Pediu que o passado fosse esquecido e que agora os demais presidentes olhassem para frente. Depois, seguiu num simpático discurso de união, respeito e cooperação. Salientou quatro pontos em relação aos quais gostaria de ter a parceria amiga dos países da América Latina: a segurança, a energia, o combate ao narcotráfico e os Direitos Humanos.Sobre Cuba a fala do “adorável” presidente não foi diferente da de qualquer outro que já passou pelo cargo. Poderia sim rever o bloqueio ou estabelecer novas relações, mas Cuba deverá “ter antes eleições livres e respeitar os direitos humanos”. Ora, qual é a diferença dos Bush pai e filho, de Reagan, de Clinton? O mesmo velho e rançoso papo da liberdade e da democracia que serve de “desculpa” para as centenas de invasões e mortes provocadas pelo país no passado que Obama pede para todos esquecerem.Obama diz que já estendeu uma mão a Cuba liberando a remessa de dinheiro e as viagens, e que agora Cuba precisa soltar os presos políticos e entrar no rumo da democracia garantindo a liberdade de expressão. Ora, de qual democracia Obama fala? Desta em que os cidadãos só votam uma vez a cada quatro anos e quase nada sabem do que se passa no mundo? Ou a democracia cubana na qual as gentes participam dos processos decisórios desde os comitês de rua? E como falar em “soltar presos políticos” quando tem uma base de Guantánamo repleta de gente que não teve sequer direito a um julgamento, além de sofrer torturas inimagináveis? E a liberdade de expressão, o que isso quer dizer? Liberdade de empresa, como a que existe nos EUA? Se esquecermos o passado podemos até pensar que a fala de Obama pode ter alguma novidade. Mas, é possível esquecer?
As quatro metas
Outros elementos do discurso de Obama devem servir para colocar a América Latina com as barbas de molho, mesmo aqueles que decidirem “esquecer o passado” de invasões, mortes, golpes de estado e intervenções clandestinas via CIA. O presidente dos Estados Unidos quer definir uma política de segurança para o Continente. Vamos então observar as letras pequenas. Quando o império fala em segurança o que está querendo dizer? Que deverá, com certeza, reforçar sua ocupação nos chamados “países falidos”, aqueles que estão em tal estado de caos e de descontrole (muitas vezes provocados pelos EUA) e que já não conseguem governar sem ajuda.Hoje os Estados Unidos já cercam militarmente todas as riquezas da América Latina. Há uma base militar em Manta no Equador, outras duas na Colômbia, em Três Esquinas e Letícia e uma em Iquitos, no Peru. Estas quatro controlam toda a regiaõ Amazônica. Existem ainda as bases de Rainha Beatrix, em Aruba e a de Hato, em Curaçao. Estas duas estão praticamente na frente da Venezuela e podem ser de grande valia num momento de ocupação da região do petróleo. E, na América Central tem a base de Comalapa, em El Salvador , a de Vieques, em Porto Rico , a de Soto do Cano, em Honduras e a de Guantánamo, em Cuba. Agora , para fechar a completa dominação os Estados Unidos desejam estabelecer uma base na Terra do Fogo, na Argentina, e outra no Brasil. Será que Lula vai permitir? Isso sem falar nas andanças da Quarta Frota pelo litoral da América Latina numa mostra aviltante do seu poderio militar. Quando fala em cooperação na segurança é disso que fala Obama: a segurança do seu país na dominação das riquezas desta que é a maior reserva energética do planeta: a América Latina.Aí chegamos ao segundo ponto: a energia. Os Estados Unidos são quase completamente dependentes do petróleo. O consumo alucinado do império não sobrevive muito tempo sem o óleo negro do oriente médio e da Venezuela. Daí que encontrar caminhos para uma energia alternativa tem muito mais a ver com a sustentação do país do que com salvar o planeta. E aí, a “cooperação” da América Latina também é muito interessante. Aqui, nas terras que ficam abaixo do rio Bravo estão as maiores riquezas do mundo. Há petróleo em abundância, há florestas, biomassa, biodiversidade, biocombustíveis, gás, minerais, enfim, um inesgotável mundo de opulência que torna este espaço geográfico muito cobiçado. Não é sem razão que o continente está cercado. Porque afinal, se faltar cooperação, sempre há a possibilidade de uma ação armada.. O combate ao narcotráfico é outra desculpa do império para interferir na vida política e econômica dos países da América Latina. Segundo estudiosos da política dos Estados Unidos, tais como John Saxe-Fernández e Marco Gandásegui, a disseminação das drogas pelos países da periferia capitalista nada mais é do que uma bem pensada forma de torná-los ingovernáveis. Com as drogas e todo o esquema de poder paralelo que se estabelece vai se criando o que os fazedores de caos chamam de “estados falidos”. Sem controle sobre o crescente narcotráfico, os países acabam precisando da providencial “ajuda” dos Estados Unidos. Este tipo de coisa é bem comum na história recente como, por exemplo, no Afeganistão, onde a produção de drogas triplicou depois da ocupação dos Estados Unidos. A mesma coisa se verifica na Colômbia, conforme conta o jornalista Hernando Calvo Ospina. Ali, com todo o aparato militar estadunidense a produção de cocaína cresceu vertiginosamente. “Na verdade, os militares estão ali para combater os grupos de libertação e para garantir o controle das riquezas”.O terceiro ponto do discurso de Barak Obama foi a necessidade dos países da américa baixa respeitarem os direitos humanos. Isso soa muito familiar. Quem não se lembra das falas messiânicas de Bush pouco antes de invadir o Iraque? Para lá mandava seus soldados na tentativa de “salvar” o povo iraquiano que vivia torturado pelo ditador Sadan Hussein. Seguindo a máxima de “esquecer o passado”, em nenhum momento o presidente Bush lembrou aos seus conterrâneos que o “sanguinário ditador” tinha aprendido a ser assim com os militares dos EUA, afinal, durante muito tempo Sadan tinha sido pupilo da CIA. E, assim como ele, o famoso Bin Laden a quem se atribui a destruição das torres que deu origem ao banho de sangue de Bush no Oriente Médio. Podemos ainda lembrar da Escola das Américas que desde 1946 vem ensinando como assassinar, torturar, destruir e desmontar a mente de um prisioneiro. Hoje ela aparece, instalada no Forte Benning, estado da Geórgia, com um nome mais inocente – Instituto do Hemisfério Ocidental para Cooperação em Segurança – mas seus objetivos seguem os mesmos. Esta é a política do presidente Obama para segurança e direitos humanos?
O futuro
A Cúpula das Américas terminou com abraços, sorrisos e destensionamento de relações humanas. Obama falou com Chávez, Chávez deu um livro para Obama. Os chefes de estado se comportam amigavelmente porque assim pede o protocolo. Mas, isso não significa que as relações entre os países sejam exatamente iguais. Tanto que, há poucos dias da cúpula, na Bolívia, as garras da velha águia tentaram o assassinato do presidente Evo Morales usando as figuras de sempre, mercenários a soldo. Nada mudou. Para aqueles que não estão dispostos a esquecer o passado, este tipo de ação, normalmente controlada pela CIA, já foi responsável pela deposição de presidentes, golpes de estado etc... Tudo como manda o manual de desestabilização dos países que caminham numa outra direção que não a que ordena o império. A alienada cobertura da mídia brasileira aos fatos que envolvem o novo presidente dos Estados Unidos também não é novidadeira. Desde sempre a elite do Brasil olhou com bons olhos a “paternal” ajuda do país do norte na política e na economia. Para essa gente, acostumada a drenar o sangue da maioria da população, não há problema nenhum em ser fiel gerente do império. As migalhas que dele sobram são suficientes para alimentar-lhes a vida boa. Então, não é sem razão que os telejornais e os jornalões saúdem a V Cúpula como um momento de glória para Obama, o simpático.Já para aqueles que sabem que o passado não pode ser esquecido sob pena de trágica repetição, o encontro não trouxe muitas novidades. Estas só poderão serão percebidas na prática cotidiana. Os dias passarão e o governo dos Estados Unidos, agora sob a batuta de Obama terá de provar, com ações reais e concretas, que mudou. Antes disso, são só palavras e estas, bem o sabemos, o vento leva.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Sindicato leva donativos em visita à TI de Morro dos Cavalos


O SINTRAJUSC esteve nesta quarta-feira, 15, na Terra Indígena de Morro dos Cavalos, no Km 235 da Br-101, em Palhoça, para levar parte do que foi arrecadado para os atingidos pela enchente de novembro e ainda estava no Sindicato. A TI está celebrando a Semana da Cultura Guarani, que vai até 17 de abril com exposição e venda de artesanato e manifestações culturais.




Ler devia ser proibido

Por Guiomar de Grammon - de Belo Horizonte, Correio do Brasil

A pensar fundo na questão, eu diria que ler devia ser proibido.

Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda os homens para realidades impossíveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem. A leitura induz à loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social. Não me deixam mentir os exemplos de Don Quixote e Madame Bovary. O primeiro, coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram meteu-se pelo mundo afora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sustinha a si e ao pobre Rocinante. Quanto à pobre Emma Bovary, tomou-se esposa inútil para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e amores cortesãos.

Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder incontrolável. Liberta o homem excessivamente. Sem a leitura, ele morreria feliz, ignorante dos grilhões que o encerram. Sem a leitura, ainda, estaria mais afeito à realidade quotidiana, se dedicaria ao trabalho com afinco, sem procurar enriquecê-la com cabriolas da imaginação.

Sem ler, o homem jamais saberia a extensão do prazer. Não experimentaria nunca o sumo Bem de Aristóteles: O conhecer. Mas para que conhecer se, na maior parte dos casos, o que necessita é apenas executar ordens? Se o que deve, enfim, é fazer o que dele esperam e nada mais?

Ler pode provocar o inesperado. Pode fazer com que o homem crie atalhos para caminhos que devem, necessariamente, ser longos. Ler pode gerar a invenção. Pode estimular a imaginação de forma a levar o ser humano além do que lhe é devido.

Além disso, os livros estimulam o sonho, a imaginação, a fantasia. Nos transportam a paraísos misteriosos, nos fazem enxergar unicórnios azuis e palácios de cristal. Nos fazem acreditar que a vida é mais do que um punhado de pó em movimento. Que há algo a descobrir. Há horizontes para além das montanhas, há estrelas por trás das nuvens. Estrelas jamais percebidas. É preciso desconfiar desse pendor para o absurdo que nos impede de aceitar nossas realidades cruas.

Não, não dêem mais livros às escolas. Pais, não leiam para os seus filhos, pode levá-los a desenvolver esse gosto pela aventura e pela descoberta que fez do homem um animal diferente. Antes estivesse ainda a passear de quatro patas, sem noção de progresso e civilização, mas tampouco sem conhecer guerras, destruição, violência. Professores, não contem histórias, pode estimular um curiosidade indesejável em seres que a vida destinou para a repetição e para o trabalho duro.

Ler pode ser um problema, pode gerar seres humanos conscientes demais dos seus direitos políticos em um mundo administrado, onde ser livre não passa de uma ficção sem nenhuma verossimilhança. Seria impossível controlar e organizar a sociedade se todos os seres humanos soubessem o que desejam. Se todos se pusessem a articular bem suas demandas, a fincar sua posição no mundo, a fazer dos discursos os instrumentos de conquista de sua liberdade.

O mundo já vai por um bom caminho. Cada vez mais as pessoas lêem por razões utilitárias: para compreender formulários, contratos, bulas de remédio, projetos, manuais etc. Observem as filas, um dos pequenos cancros da civilização contemporânea. Bastaria um livro para que todos se vissem magicamente transportados para outras dimensões, menos incômodas. E esse o tapete mágico, o pó de pirlimpimpim, a máquina do tempo. Para o homem que lê, não há fronteiras, não há cortes, prisões tampouco. O que é mais subversivo do que a leitura?

É preciso compreender que ler para se enriquecer culturalmente ou para se divertir deve ser um privilégio concedido apenas a alguns, jamais àqueles que desenvolvem trabalhos práticos ou manuais. Seja em filas, em metrôs, ou no silêncio da alcova... Ler deve ser coisa rara, não para qualquer um.

Afinal de contas, a leitura é um poder, e o poder é para poucos.

Para obedecer não é preciso enxergar, o silêncio é a linguagem da submissão. Para executar ordens, a palavra é inútil.

Além disso, a leitura promove a comunicação de dores, alegrias, tantos outros sentimentos... A leitura é obscena. Expõe o íntimo, torna coletivo o individual e público, o secreto, o próprio. A leitura ameaça os indivíduos, porque os faz identificar sua história a outras histórias. Torna-os capazes de compreender e aceitar o mundo do Outro. Sim, a leitura devia ser proibida.

Ler pode tornar o homem perigosamente humano.

Guiomar de Grammon é graduada em História, Licenciatura Plena e Bacharelado, pelo Instituto de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Federal de Ouro Preto, em Minas Gerais. In: PRADO, J. & CONDINI, P. (Orgs.). A formação do leitor: pontos de vista. Rio de Janeiro: Argus, 1999. pp.71-73.

terça-feira, 14 de abril de 2009

O subdesenvolvimento catarinense - Análise sobre o Código Ambiental

Por: Beate Frank e Lúcia Sevegnani

A aprovação, pela Assembléia Legislativa de Santa Catarina, em 31 de março de 2009, de um código (anti)ambiental, contendo diversas inconstitucionalidades propostas pelo governo estadual, é, sem dúvida, um retrocesso na política ambiental, e o testemunho do desconhecimento ou da tendenciosidade dos governantes. Muitos deles desconhecem e não se deixam esclarecer sobre as relações profundas que existem entre um ambiente degradado e a baixa qualidade de vida; entre uma paisagem frágil mal cuidada e o aumento do risco de desastres naturais; entre a inexistência de florestas conservadas e biodiversas e a ocorrência de secas, enchentes e vendavais; entre a inexistência de matas ao longo dos rios e os prejuízos com enxurradas; entre solos expostos à erosão e perda de sua capacidade produtiva e conseqüente aumento dos custos de produção; entre nascentes degradadas e falta de água; e entre ambiente urbano e ambiente rural. A única relação não ignorada e bem utilizada como argumento pelos proponentes do código (anti)ambiental é que a exploração dos recursos naturais gera riqueza, que, se bem dirigida, gera acúmulo de capital, o que é comprovado pelos índices. O crescimento econômico estadual, de 9% em 2008, o mais alto índice do país, caminha paralelamente à mais alta taxa de destruição da Mata Atlântica.
A população de Santa Catarina acabou de ser penalizada, portanto, com uma lei que, se implementada, não vai lhe trazer benefícios reais. Haverá, certamente, benefícios econômicos, para poucos, e sem sustentação ao longo do tempo, dadas as demais relações desconsideradas pela nova lei.
Durante a sessão da ALESC em que o código (anti)ambiental foi aprovado, a platéia foi surpreendida com a manifestação lúcida do Deputado Édison Andrino (PMDB), que classificou o código como sendo rural e não ambiental, que isso consistia um equívoco, trazendo consigo uma série de problemas graves para Santa Catarina, difíceis de serem resolvidos. O Deputado atribuiu o fato à própria composição atual da Assembléia Legislativa, cuja base eleitoral é predominantemente rural. Mesmo assim, ele votou a favor do código. A oposição oferecida pela bancada do PT, apoiada pelos movimentos sociais e ambientalistas, surtiu pouco efeito.
É importante que se diga, porém, que esse código não é uma iniciativa isolada do governo, tanto que vimos assistindo, de forma gradativa, a uma verdadeira “erosão” da política estadual de meio ambiente e das políticas associadas.
Recentemente a ALESC aprovou lei que mutilou a área do Parque Estadual da Serra do Tabuleiro, criado pelo visionário governador Konder Reis, assessorado pelo Dr. Pe. Raulino Reitz, emérito botânico catarinense, reduzindo-o a um mosaico de áreas de proteção ambiental, frágeis na conservação da biodiversidade. O governo sabe que havia e há recursos financeiros depositados por conta das compensações ambientais para a indenização das terras do Parque, mas isso não foi efetivado. Aprovou também lei que facilita a instalação de pequenas centrais hidrelétricas, dando o direito do uso da água (que é um bem público) a empreendedores, sem considerar diretrizes do respectivo comitê de bacia hidrográfica, ao contrário do que prega a lei das águas.
A FATMA, um dos primeiros órgãos estaduais de meio ambiente do Brasil e que desenvolveu ações relevantes no passado, como o programa de despoluição do rio do Peixe na década de 80, vem sendo progressivamente sucateada, há muitos anos, tendo inclusive dirigentes acusados de corrupção.
Os resultados dessa “erosão” são também evidenciados através do inventário florístico florestal de Santa Catarina, que mostrou, recentemente, a situação degradada dos fragmentos florestais remanescentes no planalto catarinense, do rio Iguaçu ao rio Pelotas, região que abriga, por exemplo, o município de Campos Novos, cidade do Deputado Romildo Titon, relator do projeto de lei do código ambiental.
O plano estadual de gerenciamento costeiro, que busca o uso mais harmônico do litoral catarinense em trabalho conjunto com os municípios costeiros, encontra-se praticamente desativado. A política estadual de saneamento, sancionada em 2006, não está sendo implementada. A política estadual de recursos hídricos, que data de 1994, vem sendo praticamente ignorada, principalmente no que diz respeito à participação e à descentralização, que são seus principais fundamentos. Provavelmente outros exemplos poderiam ser acrescidos a essa lista.
Enfim, se de um lado Santa Catarina no passado foi um Estado inovador na criação de políticas voltadas à proteção do meio ambiente, o retrocesso na gestão dos recursos naturais e da proteção ambiental, nos últimos anos, tem sido sistemático, articulado e extensivo, apontando no sentido do subdesenvolvimento, produzindo um estado cada vez mais terceiro mundo, (como explica Cristóvão Buarque no artigo “O pensamento em um mundo terceiro mundo”), em que pese o desenvolvimento tecnológico de alguns setores, inclusive governamentais.
Embora seja duro admitir, a gravidade do desastre ambiental de novembro de 2008 no vale do Itajaí é fruto desse subdesenvolvimento, resultante das ações e omissões diárias de proprietários e governos no uso do solo urbano e rural. A Defesa Civil estadual, por mais modernizada e equipada, não tem outra função do que salvar as vidas humanas. A destruição, o sofrimento das pessoas, as perdas materiais, a perda de capacidade de produção de muitos ambientes, não tem como ser mitigada pela Defesa Civil nem pelo desenvolvimento tecnológico. O planejamento do uso dos recursos naturais e da paisagem, e um sistema de gestão ambiental eficiente são requeridos para uma verdadeira prevenção. Os cofres públicos estaduais engordaram em R$100 milhões ao longo de 2008, mas nada disso foi aplicado ainda em melhoria da estrutura da gestão ambiental estadual na região atingida.
Essa triste evolução remete ao livro “Colapso”, de Jared Diamond, que analisa as estratégias adotadas por povos em diferentes épocas da história, e que levaram ao seu sucesso ou fracasso, à sobrevivência ou ao extermínio. Trata-se de uma leitura recomendável, e que pode vir a abrir os olhos do leitor interessado. Diamond mostra que a capacidade de uma sociedade de reagir, de dar respostas adequadas aos problemas enfrentados, é a chave do sucesso.
Portanto, ética, acima de tudo ética, inteligência, boa-vontade, educação e muito discernimento serão requeridos para conduzir a Santa e frágil Catarina em direção a dias melhores.
* Beate Frank, doutora em Engenharia de Produção, é secretária executiva do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí e coordenadora do Projeto Piava
* Lúcia Sevegnani, doutora em Ecologia, é professora da Universidade Regional de Blumenau

sábado, 4 de abril de 2009

Entrevista com o assessor econômico do SINTRAJUSC, Washington Luiz Moura Lima

O SINTRAJUSC fez Reunião Ampliada no dia 4 de abril, sábado, na sede do Campeche, na Capital, para discutir a assistência médica do TRT. Estavam presentes o assessor econômico do Sindicato, Washington Luiz Moura Lima, e o representante dos servidores junto à GEAP, Henrique Jacinto de Oliveira. Confira as entrevistas.

Entrevista: Míriam Santini de Abreu

Entrevista com Henrique Jacintho de Oliveira, representante dos servidores do TRT junto à GEAP

Dia 4 de abril - Entrevista: Míriam Santini de Abreu

sexta-feira, 3 de abril de 2009

As manchetes do Golpe

Depois da revelação de que o governo americano patrocinou, com armas e dólares, a implantação da ditadura de 1964, um pesquisador se deu ao trabalho de coletar e divulgar na internet uma lista das manchetes e editoriais dos principais jornais brasileiros a partir de 1º de abril de 1964. Confira em:

quarta-feira, 1 de abril de 2009

STF retira recurso contra o diploma da pauta


O recurso contra o diploma para exercício da profissão de jornalista foi retirado da pauta de votações do STF nesta quarta-feira, dia 01. Não foi divulgada nova data para julgamento. Dirigentes do Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina, profissionais e estudantes de jornalismo da UFSC estiveram na vigília realizada na frente do prédio da Justiça Federal em Florianópolis. A Executiva da FENAJ e a Coordenação da Campanha vão definir novas ações, mas desde já a orientação é para que se mantenha a movimentação nos estados e os preparativos para o Dia do Jornalista, 7 de abril.

E louvemos agora as grandes máquinas...

Míriam Santini de Abreu, jornalista
Ouvi o ronco da motosserra numa manhã. Imaginei que a prefeitura estaria limpando o terreno baldio atrás do prédio onde moro. Mas o resultado eu só vi na noite do dia seguinte, quando cheguei em casa e fui recolher a roupa. Tudo, absolutamente tudo, havia sido arrancado, inclusive a árvore querida na qual pousavam pássaros e que eu gostava de contemplar da janela da sala. De dia fui conferir o estrago. Dela só restou um toco com algumas farpas, em meio a um solo nu e poeirento.
Quando estive em Cambará do Sul (RS), ouvi uma piada freqüente. A região gaúcha não é mais chamada de Campus de Cima da Serra, e sim de Pinus de Cima da Serra. O pinus tomou a terra onde pastava o gado porque dá mais dinheiro. Os produtores, sempre às voltas com as migalhas da pífia política agrícola do governo, agora se dedicam às enfileiradas plantações, que crescem rápido nestas terras do Brasil.
Gosto de “viajar” no Google Earth, que permite observar qualquer parte da Terra, especialmente com o recurso pelo qual se vê o mundo em três dimensões. É com fascínio amedrontado que observo a Mata Atlântica pontilhada de cidades, a Serra do Mar cheias de estrias-estradas, a cratera cinzenta da mina de cobre de Chuquicamata no coração do Deserto de Atacama, o fulgor de Manhattan, tal como no filme AI - Inteligência Artificial. Ali está o resultado do trabalho social no que ele tem de poético, estupendo, perverso. E principalmente o resultado deste trabalho sobre a superfície terrestre. A motosserra que despedaçou a minha arvoreta é filha dessa história, gene de uma linhagem cujo apetite é cada vez mais voraz.
Veja o tamanho desta fome em:
www.youtube.com/watch?v=-pLsjqPAIdE