sexta-feira, 27 de março de 2009

O censor Gilmar Mendes

Carta aberta aos jornalistas do Brasil
Leandro Fortes

No dia 11 de março de 2009, fui convidado pelo jornalista Paulo José Cunha, da TV Câmara, para participar do programa intitulado Comitê de Imprensa, um espaço reconhecidamente plural de discussão da imprensa dentro do Congresso Nacional. A meu lado estava, também convidado, o jornalista Jailton de Carvalho, da sucursal de Brasília de O Globo. O tema do programa, naquele dia, era a reportagem da revista Veja, do fim de semana anterior, com as supostas e “aterradoras” revelações contidas no notebook apreendido pela Polícia Federal na casa do delegado Protógenes Queiroz, referentes à Operação Satiagraha. Eu, assim como Jailton, já havia participado outras vezes do Comitê de Imprensa, sempre a convite, para tratar de assuntos os mais diversos relativos ao comportamento e à rotina da imprensa em Brasília. Vale dizer que Jailton e eu somos repórteres veteranos na cobertura de assuntos de Polícia Federal, em todo o país. Razão pela qual, inclusive, o jornalista Paulo José Cunha nos convidou a participar do programa.
Nesta carta, contudo, falo somente por mim.
Durante a gravação, aliás, em ambiente muito bem humorado e de absoluta liberdade de expressão, como cabe a um encontro entre velhos amigos jornalistas, discutimos abertamente questões relativas à Operação Satiagraha, à CPI das Escutas Telefônicas Ilegais, às ações contra Protógenes Queiroz e, é claro, ao grampo telefônico – de áudio nunca revelado – envolvendo o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, e o senador Demóstenes Torres, do DEM de Goiás. Em particular, discordei da tese de contaminação da Satiagraha por conta da participação de agentes da Abin e citei o fato de estar sendo processado por Gilmar Mendes por ter denunciado, nas páginas da revista CartaCapital, os muitos negócios nebulosos que envolvem o Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), de propriedade do ministro, farto de contratos sem licitação firmados com órgãos públicos e construído com recursos do Banco do Brasil sobre um terreno comprado ao governo do Distrito Federal, à época do governador Joaquim Roriz, com 80% de desconto.
Terminada a gravação, o programa foi colocado no ar, dentro de uma grade de programação pré-agendada, ao mesmo tempo em que foi disponibilizado na internet, na página eletrônica da TV Câmara. Lá, qualquer cidadão pode acessar e ver os debates, como cabe a um serviço público e democrático ligado ao Parlamento brasileiro. O debate daquele dia, realmente, rendeu audiência, tanto que acabou sendo reproduzido em muitos sites da blogosfera.
Qual foi minha surpresa ao ser informado por alguns colegas, na quarta-feira passada, dia 18 de março, exatamente quando completei 43 anos (23 dos quais dedicados ao jornalismo), que o link para o programa havia sido retirado da internet, sem que me fosse dada nenhuma explicação. Aliás, nem a mim, nem aos contribuintes e cidadãos brasileiros. Apurar o evento, contudo, não foi muito difícil: irritado com o teor do programa, o ministro Gilmar Mendes telefonou ao presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer, do PMDB de São Paulo, e pediu a retirada do conteúdo da página da internet e a suspensão da veiculação na grade da TV Câmara. O pedido de Mendes foi prontamente atendido.
Sem levar em conta o ridículo da situação (o programa já havia sido veiculado seis vezes pela TV Câmara, além de visto e baixado por milhares de internautas), esse episódio revela um estado de coisas que transcende, a meu ver, a discussão pura e simples dos limites de atuação do ministro Gilmar Mendes. Diante desta submissão inexplicável do presidente da Câmara dos Deputados e, por extensão, do Poder Legislativo, às vontades do presidente do STF, cabe a todos nós, jornalistas, refletir sobre os nossos próprios limites. Na semana passada, diante de um questionamento feito por um jornalista do Acre sobre a posição contrária do ministro em relação ao MST, Mendes voltou-se furioso para o repórter e disparou: “Tome cuidado ao fazer esse tipo de pergunta”. Como assim? Que perguntas podem ser feitas ao ministro Gilmar Mendes? Até onde, nós, jornalistas, vamos deixar essa situação chegar sem nos pronunciarmos, em termos coletivos, sobre esse crescente cerco às liberdades individuais e de imprensa patrocinados pelo chefe do Poder Judiciário? Onde estão a Fenaj, e ABI e os sindicatos?
Apelo, portanto, que as entidades de classe dos jornalistas, em todo o país, tomem uma posição clara sobre essa situação e, como primeiro movimento, cobrem da Câmara dos Deputados e da TV Câmara uma satisfação sobre esse inusitado ato de censura que fere os direitos de expressão de jornalistas e, tão grave quanto, de acesso a informação pública, por parte dos cidadãos. As eventuais disputas editoriais, acirradas aqui e ali, entre os veículos de comunicação brasileiros não pode servir de obstáculo para a exposição pública de nossa indignação conjunta contra essa atitude execrável levada a cabo dentro do Congresso Nacional, com a aquiescência do presidente da Câmara dos Deputados e da diretoria da TV Câmara que, acredito, seja formada por jornalistas.
Sem mais, faço valer aqui minha posição de total defesa do direito de informar e ser informado sem a ingerência de forças do obscurantismo político brasileiro, apoiadas por quem deveria, por dever de ofício, nos defender.

Leandro Fortes
Jornalista
Brasília, 19 de março de 2009
Foram enviadas cópias desta carta para Sérgio Murillo de Andrade, presidente da Federação Nacional de Jornalistas (Fenaj); Maurício Azedo, presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI); e Romário Schettino, presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal (SJPDF)

quinta-feira, 26 de março de 2009

Livro discute privatização da CSN

O Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSC convida para a Palestra com lançamento de livro TRABALHADORES, POLÍTICA E PRIVATIZAÇÃO DA CSN: PROJETOS EM DISPUTA?, do Prof. Dr. EDILSON JOSÉ GRACIOLLI, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

Data: 30/03/2009 (2ª feira)
Horário: 14h
Local: Auditório da Reitoria ? UFSC

Livros que serão apresentados na palestra: 1- Um caldeirão chamado CSN: resistência operária e violência militar na greve em 1988. 2ª edição. Uberlândia (MG): Edufu. 2- Privatização da CSN: da luta de classes à parceria. São Paulo: Editora Expressão Popular, 2007.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Sindicalistas lançam livro em Florianópolis


Pedro Armengol e Edvaldo Pitanga contam o resultado de vinte anos testemunhando os bastidores do movimento sindical. A coletânea de histórias vividas e ouvidas pelos sindicalistas está no livro: EU MORRO E NÃO VEJO TUDO.
Armengol e Pitanga divertem o leitor com causos pitorescos e tragicômicos dos bastidores da luta dos trabalhadores no serviço público federal. Histórias que começaram nos primeiros anos da década de 1980 quando os trabalhadores davam início a um forte movimento contra a ditadura que corroia direitos individuais.
EU MORRO E NÃO VEJO TUDO traz o outro lado do movimento sindical muitas vezes desconhecido do público em geral. Os autores deitam e rolam nesta obra que conta histórias divertidas e memórias de tempos saudosos. As histórias vêm levemente apimentadas com pitadas de polêmica. Bem ao modo sindicalista. Não deixe de ler e se deliciar com este livro para também dizer: EU MORRO E NÃO VEJO TUDO.
O lançamento deste livro marca a trajetória de Armengol e Pitanga, que não querem parar por aí. Com muitas histórias ainda guardadas na manga e outras tantas por vir, o volume II é uma questão de tempo.


COQUETEL DE LANÇAMENTO EU MORRO E NAO VEJO TUDO COM PEDRO ARMENGOL
DATA: 02/04/2009

HORARIO: 20h30

LOCAL: Hotel Canto da Ilha - Av. Luiz Boiteaux Piazza, 4810 - Ponta das Canas /Florianópolis - SC
PROMOÇÃO: SINTRAFESC

terça-feira, 24 de março de 2009

Filme Equus abre a programação anual do Chá & Cultura

Na primeira sessão do Cinema, Chá & Cultura em 2009 será exibido o filme Equus, baseado na peça homônima de Peter Shaffer, de 1973. Trata-se da história do psicanalista Martin Dysart e seu paciente Alan Strang, um jovem que furou os olhos de seis cavalos, no estábulo onde trabalhava.
A peça foi levada o cinema em 1977 por Sidney Lumet, e recebeu vários prêmios. Com roteiro do próprio Shaffer, o filme teve Richard Burton e Peter Firth nos papéis do Dr. Dysart e do jovem Strang, tendo sido ambos indicados para o Oscar de melhor ator e melhor ator coadjuvante por suas arrojadas interpretações.
A exibição será no dia 27 de março (sexta-feira) e terá a participação especial do diretor Celso Nunes, que em 1975 encenou a peça no Brasil, dirigindo Paulo Autran no papel do psicanalista. Celso Nunes se formou como ator pela ECA, como diretor pela Sorbonne, estagiando com Grotowski e trazendo sua técnica para o Brasil em 1969. Doutorou-se pela ECA, implantou e dirigiu o departamento de teatro da Unicamp, levando aos palcos brasileiros vários autores, de Eurípides a Thurnbul, de Camões a Shakespeare. Celso recebeu dois prêmios da APCA por duas de suas direções e continua atuando na área teatral.
Promovido pela Fundação Cultural BADESC e Cultura Inglesa de Florianópolis, Cinema, Chá & Cultura é um projeto dedicado à exibição de filmes relativos às obras literárias de tradição anglófona. Para os idealizadores, Professores Anelise R. Corseuil (UFSC), Brígida de Miranda (UDESC), Leon de Paula (UDESC) e Maria Cecília M.N. Coelho (COGEAE-PUCSP), os encontros são uma oportunidade de exibir filmes variados e promover a discussão sobre as relações entre literatura (principalmente a dramática) e suas adaptações para o cinema A atividade é mensal e será conduzida alternadamente por um convidado ou um dos professores organizadores.
Para este encontro está programado das 18h às 19h um comentário à peça e a sua encenação, durante o qual os participantes poderão se servir de chá, feito ao modo inglês por Rosa Ferreira, gerente da Cultura Inglesa Florianópolis, e das 19h às 21h20min, a exibição do filme, no auditório da Fundação. Cinema, Chá & Cultura é gratuito e aberto a todos os interessados.
Informações: Fundação BADESC: R. Visconde de Ouro Preto, 216 – Florianópolis – 3224-8846 fundacaocultural@badesc.gov.br Cultura Inglesa: R. Rafael Bandeira, 335 - Florianópolis – 3224-2696 recepcaofln@culturainglesa-sc.com.br
Fonte: Agecom/UFSC

segunda-feira, 16 de março de 2009

Mostra de Filmes Árabes em Florianópolis

CONVITE

O Cine Arth Cinema & Humanidade - UDESC - e o Comitê Catarinense de Solidariedade ao Povo Palestino convidam:


مهرجان السينما العربية

Mostra de Filmes Árabes

Em parceria com Comitê Catarinense de Solidariedade ao Povo Palestino

O Limoeiro (Lemon tree): Dia 21 de Março às 18h.
Gênero: Drama/ Duração: 106 min
Origem: Israel/ Alemanha/ França - 2008
Direção: Eran Riklis
Debatedores: Alberto Groisman - Antropologia UFSC
Nildomar Freire - Comitê Catarinense de Solidariedade ao Povo Palestino

A grande viagem: Dia 28 de Março às 18 h.
Gênero: Drama/ Duração: 108 min.Origem: França/Marrocos - 2004Direção: Ismaël Ferroukhi
Debatedores: Claudia Espínola - Antropologia UFSC
Silvinha - Comitê Catarinense de Solidariedade ao Povo Palestino

Paradise Now: Dia 30 de Março às 19 h.
(Dia da Terra Palestina e Dia de Mobilização Internacional de Solidariedade ao Povo Palestino)
Gênero: Drama/ Duração: 90 minOrigem: Alemanha - França - Holanda – Israel - 2005Direção: Hany Abu-Assad
Debatedores: Paulo Pinheiro Machado - História -UFSC
Khader Othman - Comitê Catarinense de Solidariedade ao Povo Palestino
Fauzi El Mashni - Ex -embaixador da Palestina no México

Free Zone: Dia 04 de Abril às 18 h.
Gênero: Drama/ Duração: 94 min
Origem: Bélgica/ França/ Israel/ Espanha – 2005
Direção: Amos Gitai
Debatedores: Ana Brancher- História -UFSC
Silvinha - Comitê Catarinense de Solidariedade ao Povo Palestino

Local: Museu da Escola Catarinense (antiga FAED), R. Saldanha Marinho, 196, Centro.
Entrada Franca
Após os filmes haverá debate com convidados.
Apoio: MUSEU DA ESCOLA CATARINENSE – UDESC
informações:
cinearth@gmail.com e comitepalestinasc@yahoo.com.br

30 DE MARÇO- DIA DA TERRA PALESTINA

Em 30/03/1976, os palestinos nos territórios ocupados em 1948, entraram em greve e realizaram várias manifestações contra o confisco de suas terras pelo o governo de Estado Sionista de Israel. A repressão foi forte e vários palestinos foram assassinados pelo brutal exército de Israel. Este dia ficou conhecido como o Dia da Terra, mais um dia de Luta pela Terra e pela libertação da Palestina! Neste dia ocorrem grandes manifestações na Palestina, em especial nos territórios ocupados em 1948.

30 DE MARÇO - DIA INTERNACIONAL DE SOLIDARIEDADE AO POVO PALESTINO
Data escolhida pelo Fórum Social Mundial - realizado em janeiro de 2009 na cidade de Bélem - Brasil para homenagear a luta de resistência do Povo Palestino e o justo direto da implantação do Estado da Palestina em seu Solo Pátrio!

Voçê é o nosso convidado(a)!
Participe e nos ajude na divulgação deste evento!

Conheça nosso blog
http://somostodospalestinos.blogspot.com/

A voz do povo

(o desmonte do PAO – Plano de Apoio à Oposição, em Santa Catarina)
Por Raul Longo - Florianópolis

16/03/2009 - Nos tempos em que o povo não era escutado, dizia-se que sua voz era a voz de Deus, mas nem por isso se evitou muito cacete no lombo dos que ousavam protestar contra os desmandos das elites e dos governantes. Talvez o axioma fosse verdade, mas para tal haveria de se concluir que Deus era censurado com o apoio de certas instituições cristãs como a TFP, que dizia marchar em Sua companhia pela tradição, família e propriedade.
Mas as coisas mudaram e tá difícil, hoje em dia, relegar o vozerio popular ao zumbido das preces ou escondê-la em calabouços, pois censurar a voz do povo, ainda mais com o advento da internet, se faz impossível.
O único instrumento que sobrou às elites é a contra-informação. A manipulação da informação do fato real, a inversão da verdadeira vontade popular. Só para exemplificar como a coisa funciona, reproduzo a nota de coluna assinada por certa senhora de nome Maria Aparecida Nery, num pequeno jornal, provavelmente semanário, de profusa policromia perceptivelmente patrocinada por interesses e especuladores imobiliários. Dá a entender a autora que os moradores da comunidade do Sambaqui prefiram descartar seus “dejetos in natura no solo e nos cursos d’água... de onde – conclui – naturalmente, tudo vai parar no mar”.
Considerando que de 24 anunciantes do pequeno jornal da dona Maria Aparecida: “Ilha Capital”, 14 promovem serviços relativos ao segmento imobiliário e que, além do anúncio de ½ página do governo do estado, todos os demais do mesmo tamanho ou de página inteira são de empreendimentos do ramo, esse house organ da ocupação livre e indiscriminada da Ilha de Santa Catarina pela especulação imobiliária, suscita muitas sugestões sobre os reais interesses da Companhia Catarinense de Águas e Saneamento - CASAN - em transformar o belo manguezal da desembocadura do Rio Ratones em temporária cloaca.
Mas não incorramos em cogitações sem qualquer base de mínima informação, como faz a dona Maria Aparecida que sequer se preocupou em se inteirar sobre os laudos de pesquisas da UFSC que aferiram correnteza Zero a sul e norte do estreito canal marítimo que separa a Ilha do continente, onde diversas famílias sobrevivem da maricultura. Não sabe a dona Maria que isso significa que o que for lançado no rio e do rio ao mar, por aqui mesmo ficará.
Também não sabe que a própria CASAN reconhece que seu projeto de Estação de Tratamento de Esgoto, embora assegure filtragem de até 98% dos coliformes fecais, é ineficiente quanto aos nutrientes e metais pesados ingeridos por ostras e mariscos, moluscos bivalves que do mar vão à mesa, e da mesa à morte de quem os consome.
Mas esse pedantismo blasé ao que não é do interesse da especulação imobiliária é comportamento admirado por Dona Maria Aparecida, como se nota nos títulos de outras de suas matérias no mesmo exemplar daquele house organ: “STF detona ecochatos”, “Anulado embargo do IBAMA contra Obra” e “Sem ETE na Barra do Sambaqui” .
E assim desinformada e desinformante por falta ou excesso de interesses, ignora ou omite que a palavra de ordem reproduzida em camisetas e todos os materiais de divulgação do movimento dos moradores das comunidades do Cacupé, Santo Antonio de Lisboa, Sambaqui e Barra do Sambaqui é: Tratamento de Esgoto Sim! Esgoto no Mangue Não!
Os nomes destas pequenas, anônimas e aprazíveis comunidades, de repente se projetaram pela internet reproduzindo a voz de seus moradores ao se levantaram contra a criminosa decisão do Estado de Santa Catarina em jogar o esgoto da comunidade em um rio da localidade, só para aproveitar sobejos da verba destinada pelo governo federal, através do PAC.
Dividida em dois núcleos: Barra do Sambaqui e Sambaqui, a população da bucólica e confinada comunidade tem largo histórico de combatividade desde os anos 80, quando se cogitava a negociação com a Marinha do bosque da Ponta do Sambaqui para instalação de hotel com trapiche de atracação de lanchas e outros claros desrespeitos às tradições de sobrevivência de sua gente pesqueira.
Ainda naqueles anos de ditadura os jovens filhos dos pescadores se uniram contra os especuladores e exigiram da Marinha Brasileira a manutenção do respeito àquele rincão de usufruto popular onde se realizam as festas da comunidade, os pic-nic de finais de semana, passeios e prazerosos ou românticos namoros.
Formou-se, assim, a primeira Associação de Moradores do Município de Florianópolis, notabilizando-se o bairro como núcleo de reação aos desmandos e inconseqüências das chamadas autoridades públicas.
A partir de então, percebendo-se visada pela paradisíaca beleza de sua paisagem, arquitetura e urbanismo, a comunidade vêm criando diversos eventos para manter a coesão e mobilização: gincanas, danças e brincadeiras de rua, blocos carnavalescos, exposições de seus artistas plásticos, festas religiosas e populares. Mobilizações que resultaram em arborização de praças, instalação de equipamentos de lazer e esportes infanto-juvenis, sinalização para visitantes, cuidados e vigilância entre outras ações dos próprios moradores que têm no pequeno bairro, uma extensão de suas casas.
Evidentemente, como em toda concentração humana, há as discordâncias e eventuais dissidências, mas qualquer ameaça à preservação da natureza ou às tradicionais atividades profissionais ou culturais da localidade, imediatamente reúne a todos em prol do bem comum. Foi o que se deu, por exemplo, quando um empresário de outro estado instalou uma casa sobre balsa para moradia e exploração da ostreicultura.
Desde os anos 90, as tranqüilas águas da baía têm sido utilizadas para criação de ostras e mexilhões como alternativa da atividade pesqueira, mas pôr alguém a morar sobre o mar é outra história e se as autoridades se fizeram despercebidas, os moradores de Santo Antônio e Sambaqui se manifestaram exigindo providências que retornaram os investimentos do empresário à sua terra natal ou para qualquer outro lugar que não aqui.
Mais recente, uma inusitada onda de violência alcançou o bairro e o comando da Polícia Militar decidiu pela impossibilidade de reinstalação de um posto policial que havia da entrada de Santo Antonio de Lisboa e fora retirado pelo governo anterior. Há dois anos e antes que as manifestações da comunidade fechassem o tráfego da principal via de acesso ao norte da Ilha, o posto permanece funcionando diariamente.
Ao final do primeiro semestre de 2008, através das verbas disponibilizadas pelo Plano de Aceleração do Crescimento, o PAC do governo federal, a CASAN, como administradora terceirizou a obra de instalação do tronco do sistema que coletará o esgoto do Cacupé, Santo Antônio e Sambaqui. Perceptivelmente desqualificada para o trabalho e tendo provocando diversos transtornos à comunidade, a empresa teve seu contrato de terceirização anulado por força das manifestações dos moradores através de diversas reuniões, inclusive com a presença do Ministério Público.
Sob o mesmo financiamento federal, a CASAN já instalara duvidosas e problemáticas estações de tratamento como a do bairro da Tapera e tantas outras, pretendendo reproduzir uma similar junto ao manguezal e o Rio Ratones, no núcleo habitacional da Barra do Sambaqui para o qual sequer se prevê a coleta. De esgoto, aqueles moradores ficariam apenas com o mau cheiro que, em poucos anos inviabilizaria inclusive a atividade de todos os maricultores da Baía Norte de Florianópolis, além da biologia de uma estação ecológica administrada pelo IBAMA.
Com a arrogância própria dos especuladores do capital estatal ou, melhor dizendo, público, o presidente da CASAN respondeu as manifestações da comunidade afirmando que a Estação de Tratamento de Esgoto seria instalada “Na marra”.
A mobilização dos moradores da Barra, do Sambaqui, de Santo Antônio e Cacupé estimulou outras comunidades, inclusive a da Tapera que ora se mobiliza pela suspensão do funcionamento da ETE ali instalada, altamente venosa à biologia aqüífera, inclusive as cultivadas pelos tantos produtores de ostras e mariscos de Santa Catarina.
Ainda que estatal, os rendimentos da CASAN sempre foram muito atraentes e garantiram bons empreendimentos hoteleiros aos familiares de seus ex-diretores. Associada a especulação imobiliária, a CASAN sempre encontra respaldo e apoio do setor e da mídia a ele dependente, como no pretenso informativo da dona Maria Aparecida que reproduz pérolas do que há de pior na imprensa nacional como o famigerado Reinaldo Azevedo da Veja e o, não menos, ex-assessor de Collor de Melo: Cláudio Humberto.
Também abrilhantam as mal traçadas linhas de sofrível redação dos redatores e diretores, piadinhas de forte cunho racista contra os palestinos, o governo e o partido do Presidente Lula, e máximas como a do conservador norte-americano Ben Shapiro, que bem reproduzem as perspectivas da publicação: “Chega de bons sentimentos. Não há nada de errado em tratarmos nossos inimigos como inimigos”.
Fascista, após cursar a high school de YULA Shapiro entrou em conflito com seus colegas e professores da Universidade da Califórnia, por considerá-los excessivamente liberais. Já o artigo de Reinaldo de Azevedo reproduzido no Ilha Capital é um arrazoado contra o IELA da Universidade Federal de Santa Catarina, por promover as Jornadas Bolivarianas que, a despeito do despeito do Reginaldo, tornará a ocorrer no próximo mês de abril.
Mas é isso: os reginaldos ladram e os bolivarianos passam, assim como a verdade da Voz do Povo fala mais alto do que a dos especuladores que ora se dissolvem nos desinteressantes houses organs de escusos e mal disfarçados interesses das elites.
Até aí tudo bem, faz parte da democracia e nossa função sempre foi essa mesma de desmontar planos como o desta versão do PAO – Plano de Apoio à Oposição. Só o que preocupa é a origem da verba para o financiamento do anúncio policrômico de meia página da referida edição. Terá vindo do PAC ou dos milhões destinados aos desabrigados e desassistidos de Blumenau?

sexta-feira, 13 de março de 2009

Mainardi pedirá a cabeça de Jabor?

Altamiro Borges - jornalista, é autor do livro Sindicalismo, Resistência e Alternativas

Karen Kupfer, da revista de fofocas Quem, da Rede Globo, publicou há poucos dias uma notinha reveladora sobre a relação promíscua entre jornalistas e políticos: "Para comemorar o sucesso do programa Saia Justa, Suzana Villas Boas abriu sua casa no Alto de Pinheiros para uma festança daquelas.

A turma de convidados, que também era recebida por Arnaldo Jabor, marido de Suzana, reuniu políticos, artistas e jornalistas. O candidato José Serra, para quem Suzana presta assessoria, foi prestigiá-la. Ficou um pouco e trocou idéias com alguns jornalistas". Luís Frias, presidente do Grupo Folha, também participou da festança, "que ferveu na pista até o sol raiar".

No mesmo período, a colunista Hildegard Angel escreveu no Jornal do Brasil outra nota curiosa: "Elmar Moreira, irmão de Edmar Moreira [o deputado dos demos que ficou famoso pelo castelo construído no interior mineiro], é casado com Ana Leitão, irmã de Miriam Leitão" - a jornalista da TV Globo famosa por seus palpites furados sobre economia, pela adoração ao deus-mercado e pela oposição doentia ao governo Lula. O interessante neste caso é que a colunista global, metida a sabe-tudo, nunca descreveu aos seus telespectadores os detalhes do luxuoso castelo demo.

Artista global com Kassab
Para encerrar a série sobre as relações indecentes entre jornalistas e políticos da direita, a sempre atenta Mônica Bergamo, uma das raras exceções do jornal Folha de S.Paulo, revelou no início de fevereiro: "O marido de Ana Maria Braga [estrela da TV Globo e do finado movimento golpista "Cansei'] é o mais novo colaborador da administração Gilberto Kassab (DEM/SP). Candidato derrotado à Câmara Municipal, Marcelo Frisoni vai assumir um cargo de 'coordenação' na Secretaria de Modernização, Gestão e Desburocratização" da prefeitura paulistana.

Dias antes, Bergamo foi ameaçada pelo marido brigão da artista global, que o irônico José Simão batizou de "Ana Ameba Brega". Frisoni se irritou com a pergunta sobre o pagamento da pensão alimentícia para os dois filhos do seu casamento anterior: "Publica o que quiser.

No dia seguinte, vou à redação dessa bosta de jornal e encho essa Mônica Bergamo de porrada na frente de todo mundo... A única pessoa que tentou ferrar comigo foi o Madrulha [ex-marido da apresentadora da TV Globo] e eu acabei com ele. Hoje ele é secretário de cachorro e não consegue mais nada".

Cadê o "tribunal macartista" de Mainardi?
Deixando de lado as baixarias dos "famosos", o que chama a atenção nestas notinhas é a relação obscena entre figurões da TV Globo e políticos da direita demo-tucana do país. Outra estrela da poderosa emissora, o filhinho de papai Diogo Mainardi, criou no início do mandato de Lula o seu "tribunal macartista mainardiano", no qual promoveu abjeta cruzada contra alguns profissionais da imprensa.

"A minha maior diversão é tentar adivinhar a que corrente do lulismo pertence cada jornalista", explicou o troglodita na sua coluna de estréia na revista Veja, em dezembro de 2005.

Aos poucos, Mainardi dedurou alguns colunistas mais independentes. "Tereza Cruvinel é lulista. Dessas que fazem campanha de rua. Paulo Henrique Amorim pertence à outra raça de lulistas. É da raça dos aloprados, dos lulistas bolivarianos. Acha que a primeira tarefa do lulismo é quebrar a Globo e a Veja", atacou.

O caso mais famoso desta cruzada fascista foi o do jornalista Franklin Martins, acusado levianamente de possuir uma "cota de nomeações pessoais no serviço público". Após longo bate-boca, a TV Globo preferiu apoiar o delator direitista e demitiu Franklin Martins.

Perguntar não ofende: será que Mainardi, "difamador travestido de jornalista", fará barulho agora contra seus amiguinhos da TV Globo que gozam das intimidades demo-tucanas. Pedirá a cabeça de Arnaldo Jabor, cuja esposa é assessora do presidenciável tucano José Serra, freqüentador de sua mansão?

Criticará a "cota de nomeações pessoais no serviço público" da cansada Ana Maria Braga? Pedirá detalhes picantes do castelo dos demos à "ortodoxa" Miriam Porcão - ou melhor, Leitão? Ou todos juntos - Jabor, Leitão, Ana Maria Braga e o macartista Mainardi - fazem parte do esquemão montado pela TV Globo para viabilizar a vitória do tucano José Serra em 2010?

Fonte: Diap

quinta-feira, 12 de março de 2009

SINTRAJUSC participa de ato contra a criminalização dos movimentos sociais

















O SINTRAJUSC participou na quinta-feira, dia 12, do Ato Nacional contra a Criminalização dos Movimentos Sociais e em Solidariedade aos Praças de Santa Catarina. Foi um ato em defesa da liberdade de organização das forças populares e pelo direito de cada setor da sociedade e do conjunto da classe trabalhadora de lutar por suas justas reivindicações.
A criminalização dos militantes populares e dos que vivem na pobreza é um sórdido mecanismo de poder utilizado pelas elites dominantes para manter seu “status quo” às custas da exploração da maioria do povo.
Em Santa Catarina, a aliança entre os oficiais da Policia Militar e o governador Luiz Henrique (PMDB) - governo esse que representa a oligarquia catarinense - se tornou uma afronta a todos os princípios democráticos, com perseguição às lideranças estudantis, sindicais e populares, como aos Praças da PM, que lutam por melhores condições salariais.
A tentativa de expulsar e de prender lideranças da corporação; o fechamento do sítio na internet da entidade que representa a categoria, a APRASC; o pedido na justiça de extinção da entidade, bem como, a qualificação do movimento como terrorista e guerrilheiro, tem requintes de um trágico período repressor da nossa recente história, iniciada em 1964.
Em Florianópolis, é constante a tentativa de criminalizar os movimentos sociais. O prefeito Dário Berger (PMDB) se utiliza de parte do Comando da PM para prender e agredir dirigentes sindicais, inclusive com ameaças de morte e perseguições a estes diretores. É preciso unirmos forças contra a repressão e a criminalização. É preciso honrarmos a luta de todos aqueles que dedicaram e dedicam suas vidas por uma País melhor, mais justo e democrático. Não podemos aceitar que o conservadorismo se institucionalize novamente em nossa pátria. Seja no campo ou na cidade, na luta dos sem-terra pela Reforma Agrária, na luta dos sem-teto por moradia, na luta dos trabalhadores por emprego e melhores condições salariais e na luta de todos por uma sociedade mais justa e solidária.
Foto: Míriam Santini de Abreu

segunda-feira, 9 de março de 2009

Sindicato defende 334 cargos, mas Pleno aprova proposta da Administração

O SINTRAJUSC fez nesta segunda-feira, 9, na sessão administrativa do Pleno do TRT12, a sustentação oral em defesa da criação de 334 cargos no Tribunal. Durante 10 minutos, o coordenador Luiz Severino Duarte justificou a reivindicação, afirmando que, com o aumento na carga processual, o servidor vem realizando jornadas de trabalho de até 12 horas. Isso prejudica tanto a saúde quanto os direitos legalmente conquistados pelos trabalhadores. Após as deliberações foi aprovada a proposta da Administração do TRT. Veja no vídeo, que exibe a defesa na íntegra, com exceção do encerramento.

SINTRAJUSC participa de ato no Dia da Mulher

Foto: Jeane Adre Rinque

O Sindicato participou no sábado, 7, do ato pelo Dia da Mulher. Houve intervenções públicas e distribuição de fitas lilases, a cor-símbolo do feminismo. Para além dos contornos festivos que o comércio costuma atribuir ao Dia Internacional da Mulher, os movimentos sociais e acadêmicos relembram a sua origem, marcada por intensas reivindicações sociais, política e trabalhista. “É uma data que simboliza a busca pela igualdade social entre homens e mulheres no sentido de que as diferenças biológicas sejam respeitadas sem servir de pretexto para subordinar e inferiorizar a mulher”, explica a coordenadora estadual da União Brasileira de Mulheres (UBM), Simone Lolatto.
Também participam da atividade a Casa da Mulher Catarina, o Movimento de Mulheres Trabalhadoras Urbanas(MMTU), União de Negros e Negras pela Igualdade (UNEGRO), Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), Instituto de Estudos de Gênero (IEG-UFSC),Laboratório de Relações de Gênero e Família (LabGeF-UDESC), representantes de partidos políticos, sindicatos e outras organizações da sociedade civil.

sábado, 7 de março de 2009

Enxoval

Míriam Santini de Abreu, jornalista
Eu devia ter uns 15 anos quando descobri que minha mãe fazia, às escondidas, o meu enxoval. Delicados conjuntos para enfeite em crochê, toalhas, colchas, lençóis, tudo bordado com ponto cruz colorido e miúdo, lá estavam, na prateleira mais alta do guarda-roupa dela, escondidos. Ah, que berros eu dei naquele dia! Fiz um inflamado discurso contra o que, naquela época, o enxoval significava para mim: casamento formal e filhos. E eu, eu só pensava em ser jornalista.
A mãe, como sempre, fez cara de paisagem, e não deu a mínima para as minhas reclamações. Anos a fio, continuou a comprar conjuntos, toalhas, tecidos de lençóis, e a costurar e pregar, nas barras, peças bordadas naquele caprichado ponto cruz que ela até hoje tem disposição para fazer.
Quando finalmente pude morar num local onde valia a pena colocar adornos tão bonitos, humildemente pedi o enxoval. Olha me olhou com aquela expressão de triunfo e disse que eu deveria, sim, levar o que quisesse, mas aos poucos. E assim é, até hoje.
Toda vez que vou para casa, vasculho o guarda-roupa dela para escolher peças do enxoval. Algumas sequer existem para venda, feitas a mão, com modelos de umas antigas revistas de ponto cruz que a mãe guarda até hoje. Muitas das peças em crochê foram feitas por tias já falecidas ou mulheres conhecidas sobre as quais não se ouviu mais falar.
Se a mãe inventa de dar alguma peça de presente para amigas e parentes, eu faço um berreiro, em atitude quase infantil:
- É meeeeeuuuuuu! É tudo meu!
Pensei nisso a propósito do Dia Internacional da Mulher. Naquela época, o enxoval significava tudo o que eu não desejava para mim, o modelo contra o qual eu me rebelava. Hoje, significa o que é: peças delicadas feitas pela minha mãe. O sentido mudou porque, afinal, eu me tornei o que desejava ser: uma mulher capaz de tomar decisões.

quinta-feira, 5 de março de 2009

A ofensiva contra o MST

Nos últimos dias, a imprensa vem veiculando uma série de matérias sobre o MST, que expressam uma ofensiva das forças de direita. Por isso, mostramos aqui a entrevista com o membro da direção nacional João Paulo Rodrigues, para explicar a posição do Movimento sobre os principais temas expostos.

A que se deve a reação do ministro Gilmar Mendes?
O Ministro Gilmar Mendes foi transformado no mais novo líder da direita brasileira, desde sua posse como presidente do Supremo Tribunal Federal. E ele está se comportando assim, honrando seu novo papel. É ágil para defender o patrimônio, mas lento para defender vidas. Ataca os povos indígenas, os quilombolas, os direitos dos trabalhadores, os operários e defende os militares da ditadura militar. Enfim, agora a direita brasileira tem seu Berlusconi tupiniquin. E ele opina sobre tudo e sobre todos. Aliás, ele está devendo para a opinião pública brasileira uma explicação sobre a rapidez como soltou o banqueiro corrupto Daniel Dantas, que financia muitas campanhas eleitorais e alicia grande parte da mídia. Mais grave, a revista Carta Capital denunciou que o Instituto Brasiliense de Direito Público, vinculado ao Mendes, recebeu 2,4 milhões de recursos públicos, inclusive do STF, do Tribunal Superior Eleitoral e até do Ministério da Defesa, dirigido por seu amigo Nelson Jobim. Como líder da direita, Mendes procura defender os interesses da burguesia brasileira e fazer intenso ataque ideológico à esquerda e aos movimentos sociais, para pavimentar uma retomada eleitoral da direita em 2010. Serra não precisa se preocupar, já tem um cabo eleitoral poderoso no STF.

O que aconteceu em Pernambuco?
O conflito no Pernambuco é uma tragédia anunciada. As 100 famílias estão acampadas há oito anos. Duas áreas estão em disputa. Os fazendeiros usaram de todas as artimanhas judiciais para impedir a desapropriação de suas áreas não utilizadas, que servem apenas de especulação imobiliária. As famílias trabalham e plantam na área, tiram dela seu sustento. Sofreram mais de 20 despejos. Na semana passada, depois de mais um despejo pela Polícia Militar, o fazendeiro contratou pistoleiros que foram no acampamento fazer provocações, armados. Perseguiram e espancaram um dos líderes do acampamento. Nesse clima de tensão e ameaças permanentes às famílias acampadas, alguns acabaram reagindo e no conflito houve a morte de quatro pistoleiros. O MST repudia a violência. No Brasil há muitos outros acampamentos, em igual situação de tensão e conflito. Até quando vão esperar para realizar a Reforma Agrária?
O que aconteceu no Pontal?
Na região do Pontal do Paranapanema, no estado de São Paulo, há um passivo de conflito agrário pendente há quatro décadas. Existem por lá mais de 400 mil hectares de terras públicas estaduais, com sentenças judiciais reconhecendo que são públicas. Portanto, os fazendeiros ocupantes são grileiros. E precisam sair das terras, pelas quais receberiam a indenização pelas benfeitorias. Desde o governo Mario Covas, o processo de discriminação e indenização dos fazendeiros-grileiros está parado. Com isso o problema só se agrava. Agora, na semana do carnaval, os quatro movimentos de sem terra que atuam na região realizaram ocupações de protesto em diversas fazendas.A repercussão foi imediata. Por duas razões: primeiro porque os fazendeiros possuem muitas ligações políticas na capital. Um deles inclusive era sócio do Fernando Henrique na fazenda de Buritis. Outro tem vínculos com a rede Bandeirantes, e por aí vai. E o segundo motivo é que José Rainha, que não faz parte de nenhuma instância de decisão política do MST, anunciou que as ocupações do seu movimento eram em protesto ao governador José Serra. Pronto. O tema se transformou em disputa eleitoral. As repercussões do Pontal revelam que até outubro de 2010, viveremos essa novela, da imprensa e seus partidos transformaram as disputas de terra do Pontal em tema eleitoral.
Entidades do meio rural são acusadas de desviar recursos para ocupações. Isso procede?
O MST nunca usou nenhum centavo de dinheiro público para realizar ocupações de terra. Por uma questão de princípio, as próprias famílias que participam das ocupações dos latifúndios, devem assegurar os recursos necessários para a essa ação política. É aqui que reside a força do MST e é um elemento educativo para as famílias que fazem a luta pela reforma agrária.Acontece que desde o governo Fernando Henrique Cardoso, o Estado brasileiro, dilapidado pela onda neoliberal, deixou de cumprir suas funções relativas ao setor público agrícola. O Estado não garante mais educação no meio rural, alfabetização, assistência técnica, saúde. Então, foi no governo FHC que eles estimularam o surgimento de ONGs, entidades sem fins lucrativos, para substituir as funções do Estado. E passaram recursos para essas entidades.Vale lembrar que a ONG Alfabetização Solidária, da dona Ruth Cardoso, recebeu mais de R$ 330 milhões de dinheiro público para a alfabetização de adultos.Surgiram então em áreas de assentamento diversas entidades - algumas ligadas aos assentados, outras não - para suprir as funções do Estado, realizando atividades de assistência técnica, de atendimento de saúde, de alfabetização. E recebem recursos do Estado para isso. Estranhamos que a imprensa cite apenas as entidades que apóiam a reforma agrária e são ligadas aos assentados, e omitem os milhões de reais repassados para ONGs ligadas ao PSDB, à Força sindical, aos ruralistas. Somente o SENAR (Serviço Nacional de Assistência Rural) recebe milhões de reais, todos os anos. Sendo que há processos no TCU de desvio de federações patronais em proveito pessoal de seus dirigentes.

O que aconteceu com as escolas itinerantes no Rio Grande do Sul?
Durante o governo Antonio Britto (PMDB-PPS) foi assegurado o direito das crianças de ensino primário estudarem no próprio acampamento. O estado colocava professores da rede pública e as aulas eram dadas em salas organizadas no acampamento. E quando o acampamento mudasse de local ou as famílias fossem assentadas, a escola ia junto, assegurando a continuidade do ensino àquelas crianças. Essa experiência exitosa recebeu prêmios e foi adotada por outros estados, como o do Paraná.Após a eleição do governo tucano de Yeda Crusius, se formou uma conjuntura política de ofensiva da direita na imprensa, no Ministério Publico Estadual e na Brigada Militar. Eufóricos com a vitória eleitoral, passaram a criminalizar, perseguir e reprimir os movimentos sociais, seja os professores, metalúrgicos, desempregados ou o MST. Nesse contexto, a atual governadora e o Ministério Público atuaram para suspender as aulas nos acampamentos e levar as crianças para os colégios da cidade. Ou seja, não hesitaram em prejudicar as crianças para atingir politicamente o MST.Por outro lado, o governo Yeda Crusius já fechou outras 8.500 turmas em todos os municípios do estado, a maioria no meio rural, apenas para poupar recursos, e assegurar o famigerado déficit zero As prefeituras dos municípios aonde existem acampamentos já disseram que é impossível levar as crianças para a cidade. São Gabriel, por exemplo, teria que gastar R$ 40 mil mensais. Enquanto atualmente o estado gasta R$ 16 mil para atender os oito acampamentos em todo estado. Felizmente, as escolas foram autorizadas pelo Conselho Estadual de Educação, que é o órgão que autoriza e fiscaliza o funcionamento das escolas e aprova seu currículo. Fonte:. IELA/UFSC