Cláudio Magnavita - diretor do Jornal de Turismo - claudio.magnavita@gmail.com
Já acenderam as primeiras luzes de alerta vermelho para o dinheiro público que está sendo investido para a realização da 9ª Conferência Global do WTTC (World Travel & Tourism Council) em Florianópolis nos dias 15 e 16 de maio. Trata-se de um evento privado, sem nenhuma chancela de organismos internacionais, que reunirá duas centenas de convidados internacionais e igual número de convidados nacionais.Até o fechamento da edição já ultrapassava em R$ 10 milhões os gastos de dinheiro público com o evento. Serão R$ 2,5 milhões da Embratur, R$ 5 milhões do Governo de Santa Catarina e mais de R$ 2 milhões do Fundo de Turismo e Cultura do Estado e da Prefeitura de Florianópolis.O pior de tudo isso é o superdimensionamento do evento, realizado localmente, que é apresentado como divisor de águas do turismo catarinense.
Existe, também, a ideia de que um desses 100 CEO’s internacionais, que terão passagem relâmpago por Florianópolis, resolva investir localmente, justificando dessa forma os investimentos feitos. Ao superdimensionar a extensão deste evento privado, que na realidade já tinha tido o seu passe recusado pelo Brasil, depois de uma análise ponderada de custo-benefício, passou a se “justificar” uma série de gastos, que estavam sendo mantidos distantes dos olhares fiscalizantes da sociedade e do trade turístico.
Uma tentativa anterior dos organizadores, de vender a realização do WTTC no Brasil, foi afastada por correspondência assinada pela então ministra do Turismo, Marta Suplicy, que considerou que o investimento solicitado não traria um retorno para o país. E isto dentro de uma escala de valores bem menores do que a farra de gastos que passou a ocorrer em Santa Catarina.Segundo especialistas do turismo português, o evento similar realizado em Lisboa, custou um terço do que está sendo gasto nesta edição, que foi ressuscitada pela presidente da Embratur, Jeanine Pires, que é catarinense, e os dirigentes daquele Estado, que aliás, tem no seu primeiro escalão, como presidente da Fundação de Cultura, Anita Pires, mãe da presidente da Embratur e braço direito do secretário de Turismo e Cultura, Gilmar Knaesel, que é o responsável pelos gastos do milionário Fundo Estadual de Turismo e Cultura.
Nesta história, entra o bem-intencionado governador Luiz Henrique, que, achando estar fazendo um grande negócio para o futuro do turismo do seu estado, passou a criar uma oportunidade de gastos escancarados para os seus colaboradores, com contratações milionárias de empresas de organização e até a construção de uma arena de eventos que será alugada mediante recursos do Fundo de Turismo.Só para se ter uma dimensão, trata-se de um evento privado e fechado, que reunirá menos de 500 pessoas. A Feira das Américas e o Congresso da Abav, que anualmente reúne 16 mil participantes e tem uma exposição de 30 mil m², custa aos seus organizadores um pouco mais de R$ 4,5 milhões. É pelo menos a metade do que está ocorrendo em Santa Catarina.A Embratur, por decisão própria, resolveu destinar os R$ 2,5 milhões (US$ 1,2 milhão) no apagar das luzes de 2008. O convênio assinado com o Convention Bureau de Florianópolis de número 7022/2008 referente ao processo 72100001373/2008-46, foi publicado no Diário Oficial de 30 de dezembro de 2008 e, segundo a assessoria de imprensa da entidade, os recursos já foram pagos.
O JT solicitou oficialmente ao Convention Bureu uma cópia do plano de trabalho e até o fechamento da edição não havia sido enviado. Os investimentos de R$ 5 milhões do Governo do Estado foram informados pelo assessor de imprensa do governador, localizado no Uruguai, quando acompanhava o lançamento do evento na capital do país vizinho.Os recursos do Fundo de Turismo serão usados para eventos paralelos ao WTTC, entre eles um festival de manifestações culturais e de atrações catarinenses, que será realizado em paralelo no Centro de Eventos, que segundo a assessoria do secretário de Turismo, será um minissalão de turismo, com todas as regiões turísticas do Estado e na reunião do Fórum Nacional de Secretários de Turismo (Fornatur), que se reunirá na mesma data.Contrariando a previsão do Governo, os executivos internacionais participantes do Fórum não terão tempo para uma visita técnica ao Estado e a agenda dos principais nomes envolve um frustrante bate-e-volta. O trade turístico estará alijado da participação do evento, que será super-restrito e quem não for convidado do presidente da República, do governador, do ministro do Turismo e do próprio Conselho, terá de pagar US$ 5 mil.
Em termos de agregar conhecimento para a área acadêmica local e aos profissionais catarinenses, a contribuição do Fórum será nula. Eles serão forasteiros na sua própria cidade. Contrariando a nebulosidade dos gastos envolvendo o WTTC, será necessário que os organizadores, principalmente a Embratur e o Governo do Estado, passem a prestar contas publicamente de cada centavo gasto. O Jornal de Turismo, que foi o único veículo nacional de turismo a investir no turismo catarinense e abrir uma redação regional em Florianópolis, vai colocar lupa nesta prestação de contas. Acompanharemos passo a passo.Não é a primeira vez que o turismo é usado como bandeira de investimentos milionários, de efeito inócuo. Como uma série de publicações de luxo realizada em um passado recente pela Santur, sempre utilizando uma única editora, com o aval de pessoas íntimas do governador.Em diversos blogs locais estão surgindo denúncias envolvendo também o secretário Gilmar Knaesel, que passa a ficar na mira do Ministério Público. Uma das acusações é a construção da Arena Jurerê, em uma outra mistura do público e privado. Existe também a denúncia do jornalista Cesar Valente, que afirma que “a dispensa de licitação que contemplou com R$ 1,4 milhão a IBI Asia-Pacific, para atrair turistas para Santa Catarina. É empresa coligada a uma certa IBI Americas. E no site aparece, como endereço no Brasil, a R. Frei Lucínio Korte 244, sala 202, na Vila Nova, em Blumenau”, que é a cidade da região da base política de Knaesel. Depois da cassação dos governadores da Paraíba e do Maranhão, o governador de Santa Catarina, Luiz Henrique, é um dos próximos a ser julgados, o que tem aguçado a velocidade de projetos milionários no Estado, principalmente na área de turismo.
A imprensa de quase todo o Estado, que está na mão de um único grupo empresarial, tem recebido verba pesada de publicidade, como é o caso do WTTC, que envolve a construção de uma cortina de grandiosidade para acobertar os gastos públicos exagerados para o evento.É necessário apurar o empenho pessoal da presidente da Embratur, a catarinense Jeanine Pires, em ressuscitar um evento que foi descartado pela sua ex-chefe, a ministra Marta. De analisar um possível conflito ético por sua mãe ser o braço direito de Gilmar Knaesel, secretário de Turismo e Cultura de Santa Catarina, que foi o órgão beneficiado com os efeitos do milionário convênio de R$ 2,5 milhões. Apurar a prestação de contas rigorosa dos gastos que estão sendo feitos em nome do WTTC pelo Governo do Estado e Prefeitura de Florianópolis; o envolvimento da Federação dos Conventions Bureaus de Santa Catarina em outros convênios visando o WTTC; a participação do Fundo no aluguel da Arena do Costão do Santinho; e fazer uma análise de todas as propostas que fazem parte da licitação obrigatória do convênio da Embratur, checando a capacitação técnica e os valores de mercado da proponente.
O caso fica ainda mais sério quando existe um movimento para levar o próprio presidente da República a Santa Catarina, para chancelar um evento que está sendo realizado, com o aval do órgão de promoção internacional do país, a Embratur, por valores, como afirmamos no início, muito a acima da sua dimensão real.
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