*José Álvaro de Lima Cardoso
A recente aprovação do piso salarial estadual na Assembléia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), que começa a vigorar a partir de janeiro próximo, veio em boa hora. A economia brasileira em janeiro estará em franco processo de crescimento, o que já ocorre, aliás, desde o mês de abril. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,9% no segundo trimestre, frente ao primeiro trimestre deste ano, ocasião em que tinha recuado 1,2%. A recuperação do nível de atividade no segundo semestre foi puxada pela indústria, que cresceu 2,1%, o que é muito importante, visto que este foi, de longe, o setor mais atingido pela crise.
Além do fato mencionado, a recuperação da economia se dá com base no mercado interno, com destaque para o consumo das famílias, que cresceu significativos 3,2% no segundo trimestre deste ano. O consumo das famílias vem sendo impulsionado pelo retorno do crédito e pelo crescimento da massa de rendimentos, que manteve um bom desempenho, mesmo nos piores momentos da crise. Em parte, este fenômeno está relacionado à normalização do crédito na economia e à própria redução da taxa de juros verificada nos últimos meses. Em agosto, segundo informações da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), os juros para pessoa física atingiram o menor patamar verificado em toda a série histórica, iniciada em 1995. A taxa média geral para pessoa física estava em 7,08%, após a sétima redução consecutiva. Das seis linhas de crédito pesquisadas pela Anefac, apenas o cartão de crédito manteve inalterada sua taxa de juros em agosto.
Além da disponibilidade do crédito e do seu gradual barateamento, o consumo das famílias vem sendo garantido também pela expansão da massa salarial. Segundo dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED-Metropolitana), calculada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), nos últimos 12 meses, findos em junho deste ano, verifica-se que tanto a massa de rendimentos reais dos ocupados quanto dos assalariados cresceu 1,2% e 2,1%, respectivamente. Em ambos os casos o resultado deveu-se ao crescimento do nível de ocupação do emprego, já que o rendimento médio pouco variou.
Os dados do comércio, relativos a julho, por sua vez, mostram um pouco o que acontece com o mercado interno. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em julho o comércio expandiu no Brasil pelo terceiro mês seguido e, em relação a julho de 2008, as vendas no varejo ampliaram-se em 5,9%. A receita nominal de vendas no acumulado do ano até julho elevou-se em 9,8%. Em 12 meses, a alta chegou a 11,4%. Na comparação com julho de 2008, o volume de vendas cresceu em seis das oito atividades do varejo pesquisadas, com destaque para a alta de 10,1% em Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, desempenhos diretamente relacionados à evolução da massa salarial e pela própria estabilidade nos níveis inflacionários - nos últimos 12 meses, entre setembro de 2008 e agosto de 2009, o Índice de Custo de Vida (ICV-DIEESE) acumulou alta de apenas 3,75%.
Nos primeiros meses de 2010, quando os pisos salariais estaduais começarem a ser pagos aos trabalhadores não cobertos por acordos ou convenções coletivas de trabalho, tudo indica que a economia já estará crescendo a uma taxa bastante satisfatória. Neste cenário, a expansão da massa salarial adicional decorrente dos pisos salariais, só irá contribuir para a melhoria de vida dos trabalhadores e para o crescimento da economia catarinense.
*Economista e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina
16/09/2009
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