Por Elaine Tavares, jornalista
O governo de Luis Inácio vai terminar seu segundo mandato e certamente ficará na história como o governo que conseguiu domar os trabalhadores brasileiros num tempo em que, em toda a América Latina, as gentes se levantaram em luta. A lógica de cooptação de sindicalistas e lideranças populares segue a todo vapor e, agora, com mais uma medida que promete engordar as contas de sindicatos, federações e centrais, promove um pouco mais de divisão na já combalida classe trabalhadora. Nem Getúlio Vargas foi tão longe.
Pois a última do Lula foi expandir a cobrança compulsória do imposto sindical aos trabalhadores públicos. Até então, esta excrescência só acontecia no mundo privado e significa o seguinte: os trabalhadores que não se interessam por filiar-se ao sindicato são obrigados a pagar o imposto sindical. Isso acaba sendo muito bom para os sindicatos cartoriais, pois eles prescindem do filiado. Tem o dinheiro e basta. Assim, não precisam fazer todo um trabalho de encantamento e conscientização para que os trabalhadores se filiem e lutem. É tudo bussines! É certo que sindicatos sérios e comprometidos com a luta sempre devolveram o imposto aos trabalhadores, mas isso é quase exceção.
Agora, talvez embalado pela sensação de que está com as lideranças sindicais no bolso, o governo edita uma instrução normativa, sem consultar qualquer entidade de trabalhadores, e decide que vai descontar o imposto também do setor público. As Centrais gritaram, as Federações reclamaram e muitos sindicatos também. Afinal, esta é mais uma intromissão do governo na organização dos trabalhadores.
Primeiro, foi criado o tal do Fórum Nacional do Trabalho que junta na mesma mesa patrões e trabalhadores, como se fosse possível conciliar capital e trabalho. Depois veio a proposta de Lei de Greve, mais na frente a legalização das Centrais Sindicais e agora isso. Sobre os outros três pontos quase ninguém gritou. Apenas uns poucos “arautos da desgraça”, que mostravam claramente ser esta posição governamental uma forma de cooptação dos trabalhadores e uma tentativa de conciliação de classe que amansaria os conflitos. Agora, no que diz respeito à cobrança do imposto compuslório, algumas das centrais já se pronunciaram contra, mas certamente haverá outras centrais, sindicatos e federações que acharão a idéia genial. Mais dinheiro entrando e sem que seja necessário toda a trabalheira de politizar “as massas”. A Nova Central Sindical dos Trabalhadores e a União Geral dos Trabalhadores, por exemplo, acharam a normativa uma boa idéia.
É, gente, porque agora, com o fato de o governo ter “legalizado” as centrais, tem central a dar com pau. E nunca se viu a classe trabalhadora tão apática e desmobilizada. Parece que só o que importa é o funcionamento do aparelho. Não é à toa que há quem vibre com mais esta esperteza do governo. Enquanto isso, na sala de justiça... a vida vai seguindo. Transgênicos na mesa, agronegócio bombando, serviços públicos sendo desmontados, fundação privada para gerir o público, hospitais universitários privatizados, banqueiros acarinhados, transnacionais chupando o nosso sangue, biocombustível substituindo os alimentos, e por aí vai.
Agora, com essa normativa, os sindicatos, federações e centrais, ficarão cada dia mais gordos, saciados. A luta política? Hã!...
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